Lola já tinha querido ser cabeleireira. Não por vocação, mas porque nos idos anos 70 dava imenso jeito para saber manusear o jerrican da laca, fazer a sua própria mise e outras coisas que tal. Foi despedida por falta de jeito enquanto ainda era uma jovem ajudante lavadora de cabeças.
Mas Lola não se importou. O seu sonho de menina era seguir os passos do paizinho: talhante. Infelizmente, o irmão mais velho ficou-lhe com o lugar.
Hoje em dia trabalha numa espécie de sítio onde se recolhe sangue para análises. Faz o gosto à unhaca, manuseando as seringas com muito menos delicadeza do que um tirador de cortiça e a sensibilidade de um carrasco. Mas sem nunca lhe sair um cabelo do sítio, muito à pala da sua formação no salão de cabeleireiro lá da chafarica onde cresceu. Para incorporar um certo ar de modernidade diz muitas vezes: "A sério?"
Nunca pensei dizer isto, mas aqui vai: enfermeiras simpáticas e fofinhas do centro de saúde, voltem!
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