Começou com a veterinária a dizer que finalmente podíamos incorporar algumas bolinhas de ração na papa de dieta da Teddy. Nessa altura, estive a meio caminho entre abraçar a vet e desatar chorar porque aquilo parecia-me um sonho tornado realidade. A Teddy vai finalmente (sim, estou a usar finalmente duas vezes seguidas) começar a comer a ração que nós escolhemos com todo o cuidado e que fará dela um magnifico e saudável exemplar canino.
Depois, o ligar o carro, pensar que tenho de ligar à Mãezinha a dar a novidade. Iniciar o viagem para o trabalho e fazer 10 quilómetros atrás de um camião carregado de cortiça. De repente, tenho seis ou sete anos e vou no banco de trás, é Agosto, a minha Mãe veste um kimono azul escuro por cima do bikini e calça socas, estica o dedo indicador em modo "falta de castigo" e diz para o meu Pai:
- "Este vai muito carregado. Não te aproximes muito."
Mas a banda sonora lembrava-me o Inverno em Lisboa, quando erámos só nós dois e a vida muito mais simples. O sofá era enorme e as preocupações minímas.
A música é a mesma que partilhámos com um amigo ao jantar em nossa casa, no principio da semana. A noite estava agradável e se não fosse o cansaço a apertar podíamos ter ficado à conversa horas e horas. Tal como no ano passado. Foram as noites mais quentes do ano, no princípio do Verão. Tinhamo-nos acabado de mudar. Eu ainda estava demasiado assustada e aquelas conversas noite adentro, à volta da música e de tudo o resto que viesse a calhar, souberam-me tão bem. E fiquei a sentir-me tão longe de tudo e de todos e o Verão vai dizendo adeus. E o Alentejo pode ser tão frio e solitário.
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